domingo, 29 de dezembro de 2013

Mãe

 

Mãe, o poema que te escrevo,

é as cartas que de mim nunca recebeste, as palavras de afeto que nunca te disse

e, um bocado de mim que nunca te contei…

Não sei bem porque foi assim, mas tu lá saberás, porque tu mesma

dizes que sentes tudo o que fica em mim, por te dizer.

 

Mãe, as flores que nunca te dei têm a cor

do sangue que nos une e o

perfume que tu trazes sempre contigo e,

vivem espalhadas por entre as linhas que te escrevo assim.

É que sabes, eu não tenho jeito para dar flores e

os sentimentos enrolam-se-me na língua,

dando-me a certeza de não os saber contar-te.

 

Mãe, o tempo é tão vasto, mas os dias tão escaços,

para partilhar contigo tudo o que temos a partilhar.

É que as nossas diferenças às vezes afastam-nos tanto,

que eu tenho saudades de quando ainda

era a menina de colo que abraçavas; nesses tempos

em que nada mais existia que o amor.

 

Mãe, há em mim uma infinidade de coisas que te pertencem;

mas o que eu quero de ti é o

abraço quente no meio do frio do inverno e,

no fim de tudo isso, o que eu tenho para te dar,

é aquilo que tantas vezes não consegues entender na pessoa que eu sou – avida que

não existiria sem que tu existisses, mãe.

 

 

Mãe, se a coragem me faltar um dia e,

a tua força não servir para que eu volte a sorrir:

não chores nem implores por mim;

Porque tu sabes, e se não sabes eu vou-te dizer: a tua felicidade é o meu desejo;

mas o meu coração perdeu-se algures no peito;

numa ferida aberta que me

consumiu todos os sonhos que tinhas para mim e,

deu lugar a uma vida tão diferente daquilo que esperámos, de

mãos dadas, durante o tempo em que me viste crescer

e tornar-me uma mulher – a mulher que hoje, finalmente te escreve, mãe.

 

Mãe, apesar de tudo, quero

que saibas que: o teu sorriso é a minha paz e,

a tua dor é a minha tristeza;

mas o meu sofrimento, é a ausência dos sonhos que já tive e não te contei.

Nem sei bem porque assim foi, mas tu sabes, porque tu sentes tudo

e, esse tudo que sentes, é um pouco do que sinto também.

 

Mãe, acabo este poema com tanto por

te dizer; mas as palavras, tu sabes,

são o tempo que se nos restar, já não sobra… E são

também pingos de um amor que não morre como as flores - as mesmas

que sei que não te dei e ainda esperas, junto com os sonhos que não te soube concretizar.

É que nas nossas diferenças morou e, ainda mora tanta saudade e

um silêncio tão grande, como grande é a espera em que vivemos,

de um dia vermos em cada uma de nós,

todos os sinais daquilo que a vida nos ensinou;

todas as marcas daquilo que a vida nos fez.

 

 

*

 

 

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